PISOS INDUSTRIAIS
Especificação e Medição de F-Numbers
Certamente que pisos mais planos e nivelados são esteticamente melhores. Entretanto, o controle da qualidade superficial do piso com relação a planicidade e nivelamento tem um fundamento muito mais funcional do que estético. A operação de equipamentos de precisão, tais como as empilhadeiras tipo tri-lateral e veículos tipo AGV (auto guided vehicles) e fortemente influenciada pelas características da superfície do piso.
Pisos com problemas no nivelamento e na planicidade acarretam menor performance das operações de logísticas: perda de produtividade (menor velocidade de operação na movimentação de cargas), menor segurança (risco de colisão das empilhadeiras contra a estrutura de porta-pallets em corredores estreitos), além de maior manutenção dos veículos.
Até 1987, o sistema empregado para certificação da qualidade da superfície do piso consistia na verificação da máxima abertura entre o piso e uma régua de 3m.

Com base nos resultados das aberturas classificava-se o piso com relação à planeza.
- Superfície plana – até 5mm
- Superfície muito plana – 3mm
Uma grande inovação surgiu com a introdução do conceito F-Number (F-Number System) em 1987. A partir daí, passou-se a realizar a especificação e medição da planicidade e do nivelamento dos pisos industriais com base nesta metodologia denominada F-Number que é detalhadamente descrita pela norma ASTM E 1155/96
De acordo com está norma, pode-se definir F-Numbers como sistema normalizado (ACI 117, 1990) de especificação e medição de planicidade e nivelamento de pisos de concreto sujeitos a tráfego randômico.
– FF para planicidade (flatness) definido pela máxima curvatura no piso em 600mm. Calculada com base em duas medidas sucessivas de elevações diferenciais tomadas a cada 300 mm.

- FL para nivelamento (levelnesss), definida pela conformidade relativa da superfície com uma plano de referência (geralmente o plano horizontal), medido a cada 3 m.

Nos casos de pisos inclinados ou em lajes suspensas (por causa de eventuais deformações) não faz sentido especificar ou medir o FL para controle de execução. No caso de lajes, se realiza a medição para avaliação do executor. Deverá, obrigatoriamente, ser feita com a estrutura ainda escorada.
Quando empregado o sistema F-Numbers, devem-se adotar dois requisitos para cada F-Number (FF ou FL):
- Valor Global (Specified overall value – SOV), que é o valor do índice de planeza ou nivelamento a ser atingido, calculado com base na media ponderada com a área dos resultados individuais de cada faixa de concretagem (seção de teste).
- Valor mínimo local (minimum local value – MLV), que representa o menor valor aceitável de planeza ou nivelamento para qualquer trecho do piso, faixa de concretagem ou parte dela. Este parâmetro não deve ser confundido com o conceito de Fmin empregado exclusivamente na medição de pisos sujeitos ao trafego definido de veículos.
A principal função do valor mínimo local é garantir ao cliente que todas as partes do piso estejam em conformidade com uma qualidade mínima, que garanta sua funcionalidade. As áreas (a placa como um todo ou parte dela) que representarem resultados de F-Number inferiores ao valores mínimos deverão obrigatoriamente ser reparadas ou reconstruídas (Tipping, 1996).
Um procedimento prático é definir um valor mínimo que representa uma qualidade mínima exigida pelo e/ou que garanta a funcionalidade do piso (operação dos equipamentos), e então definir os valore médios (valores globais) com certa margem de segurança. Recomenda-se que os valores médios sejam 50% maiores que os valores mínimos, ou inversamente, que os valores mínimos sejam 2/3 dos valores globais.
Como há uma sensível diferença entre o s valores mínimos e os valores globais, uma especificação que contenha apenas um valor para FF ou FL deixa margem de duvida quanto a qualidade objetivada (Frickis, 1996). Por exemplo, um projeto que especifique apenas FF>50 pode causar grandes confusões nas empresas executoras no momento do orçamento e pior, pode gerar grandes transtornos durante a execução. O número e qualidade dos operários, de equipamentos e dos procedimentos executivos são totalmente diferentes para se executar um piso com valor mínimo exigido de 50 ou um isso com valor global (médio) de 50.
Para medição dos F-Number comumente se emprega equipamento especifico denominado dipstck floor profiler, enquadrando no item 3.1.5 da norma ASTM E 1155 como equipamento inclinômetro tipo II.

Quanto às medições de planicidade e nivelamento, é altamente recomendável que sejam realizadas dentro de 24h horas após o término das operações de acabamento superficial do concreto ou no máximo até 72h conforme orientação da ASTM, permitindo que ajustes e alterações nos procedimentos de execução sejam efetuadas em tempo hábil. Outra razão é que o empenamento (curling) da placa de concreto afeta o resultado do nivelamento, o que poderia indicar um problema de projeto, de material (concreto com retração excessiva) ou de cura inadequada, e não da deficiência da execução, que é objetivo principal da avaliação.
A norma ASTM citada define todos os procedimentos para a tomada de medidas, que para linhas de medida perpendiculares às juntas ou em diagonais (45°) conforme a largura da faixa. A área de medição deve, salvo uma exceção descrita na norma, estar afastada de 60cm das juntas construtivas e das interferências (pilares, caixas de passagens). As linhas de medidas podem cruzar as juntas serradas.
Para cada linha de medida são determinados valores de FF e FL, que por sua vez são combinados para obtenção do valor final que caracteriza a placa em questão.
A avaliação não é feita em 100% da placa, o que seria impossível. São tomadas linhas de medidas (amostras) distribuídas ao longo de toda a placa, admitindo-se que o piso em uma pequena distância ao redor (dos dois lados) da linha apresente a mesma qualidade.
Podemos então ter duas situações de não conformidade. A primeira com áreas de piso que não atendem aos valores mínimos. Medidas corretivas, como a construção e a recuperação ou reconstrução destas áreas devem ser exigidas. No segundo caso, podemos ter um piso em que todas as áreas atendem aos valores mínimos, mas o resultado global é inferior ao especificado. Uma vez garantida a funcionalidade do piso (de acordo com o conceito de valor mínimo local), considera-se justo que o executor seja penalizado em razão da deficiência executiva.
O ACI 302v, apresenta alguns valores típicos de F-Numbers em função da utilização como uma referencia inicial.
Aplicação Típica | FF | FL |
Piso de garagens, estacionamentos, contra- piso para pisos elevados | 20 | 15 |
Edifícios comerciais e industriais, pisos com revestimento de carpete | 25 | 20 |
Depósitos convencionais | 35 | 25 |
Depósitos especiais (estruturas de porta pallets com grande altura),pistas de patinação | 45 | 35 |
Estúdio de cinema ou televisão | 50 | 50 |
Além deste guia, para especificação dos valores mais adequados a uma obra específica podem ser buscadas referências extras através :
– Dos fabricantes de equipamentos (empilhadeiras, trans-elevadores, etc) que serão utilizados na operação do galpão.
– De empresas de consultoria de pisos industriais que realizem as medições dos F-Numbers.
– Da obtenção direta dos F-Numbers pela medição de pisos existentes que operem satisfatoriamente e com equipamentos similares a obra em questão.
Fonte: ANAPRE
Autor: Marcel Aranha Chodounsky